07 maio 2006

absolutamente genial

Tava eu na poltrona (não se deve almoçar e jantar no espaço de 3 horas, acreditem...) e para passar o tempo pus-me a ler a revista do Expresso deste fim-de-semana (a Actual) e deparei-me com a mais corrosiva crítica cinematográfica da minha vida:

(desculpa dri que sei que queres ir ver este filme...)


"Drawing Restraint 9
de Matthew Barney

Num dos seus mais refinados acessos de sadismo, a minha ex-mulher deu-se ao luxo de me enviar pelos anos os cinco volumes do ciclo Cremaster (1995-2002), de Matthew Barney - essa espécie de «artista total» que faz um pouco de tudo e muito de coisa nenhuma (condição sine qua non para atingir o sucesso na era pós-moderna), e cujas obras têm o condão de deixar as estudantes de belas-artes à beira do histerismo e de deixar este que vos escreve à beira da neurastenia. No entanto, e porque não sou pessoa de guardar rancores, achei por bem retribuir a gentileza e resolvi oferecer à dita senhora um bilhete para o novo ademane do génio. Trata-se de um projecto encomendado pelo Museu de Arte Contemporânea de Kanazawa (Japão) que Barney executa em estreita colaboração com a islandesa Björk - grã-duquesa do gemido experimental sobre fundo dodecafónico que compôs a insuportável banda-sonora e dá corpo a uma das figuras do filme. Mas filme, neste caso, quer dizer: instalação/escultura cinética onde o poeta visionário derrama uma «pe-dantesca» metafísica panteísta que não hesita em misturar esculturas de vaselina com rituais de casamento japoneses, e o tema da fusão de culturas com uma leitura diagonal da Ética de Espinosa. E, se acha que estou a delirar, veja com atenção a cena da transfiguração ou do «devir-baleia» de Barney e Björk - um dos mais patéticos momentos de cinema que vi em tempos da vida - e fique com esta belíssima tirada filosófica concedida pelo génio «himself» à «indieWIRE»: «O rock está em todo o lado. Deus vive no rock, Deus vive nas árvores, em cada parte vive o todo». Panteísmo pim-pam-pum? Não, obrigado (P.S.: Já ligaram do hospital. A minha ex-mulher saiu do coma). "

V. Baptista Marques

1 comentário:

a. disse...

já fui ver e não percebi nada ;)