23 junho 2006

A gente não lê

Ai senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terco ao fim da tarde
Só para espantar a solidao
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mao

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os oficios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por tras da luz

Ai senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de leziria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na giria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidao ca no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruidos do mundo
E a entende-los à nossa maneira

Carregar a supersticao
De ser pequeno ser ninguém
E na quebrar a tradicao
Que dos nossos avós ja vem

Ouvir Aqui!!

2 comentários:

a. disse...

cantado ainda arrepia mais!

Anónimo disse...

Daquelas musicas simples,
que nos fazem lembrar a beleza e a pureza do nosso pequeno pais!
Grande Bernardo!!