Os dados das eleições europeias de 25 de Maio, sejam quais
forem as análises, mostram um país de costas voltadas para a política. Os
números da abstenção são assustadores, reduzindo aquilo que deveria ser a festa
da democracia a um espectáculo triste. Os partidos do centro já não mobilizam
como dantes e os partidos pequenos não conseguem chamar a si os descontentes.
É, no fundo, um falhanço a todos os níveis.
Existem várias teorias sobre o que afasta os cidadãos da política
e no caso das europeias é sempre apontado como principal culpado o alheamento dos
votantes em relação às questões europeias. É um facto que a forma como os
partidos maioritários construem discursos em torno da UE varia, como em quase
tudo, de acordo com a posição que ocupam. Culpando a UE dos seus falhanços
quando estão no poder e apoiando-se nas suas críticas quando estão na oposição.
Um perfeito desserviço à população, como é habitual.
Contudo existe um discurso, assumido pelo eleitorado,
bastante mais preocupante e que demonstra a esquizofrenia em relação às
questões europeias. Este discurso baseia-se numa ideia da europa como algo que
não interessa à população portuguesa, colidindo com a ideia igualmente
enraizada que as decisões importantes são todas tomadas pela união. É certo que
a composição institucional da UE não ajuda, sabendo-se do poder do Conselho e
da Comissão em relação ao Parlamento. Ainda assim o caminho seguido tem
reforçado os poderes parlamentares, sendo cada vez mais reconhecida a
influência deste em grandes questões como a neutralidade da internet ou o fim
das taxas de roamming.
Esta desculpa funciona para as europeias, mas já não se
revela válida para os restantes actos eleitorais. As desculpas aí variam muito,
mas no fim resume-se a um desapego fundamental ao valor da democracia e do
papel que cada cidadão desempenha no momento do voto.