31 janeiro 2007

Não me cabe na cabeça

- que haja pessoas inteligentes que possam defender o não;
- que se acredite que a despenalização vai levar a uma liberalização irresponsável;
- que os remorsos de se ter feito um aborto possam ser evitados se se mantiver tudo igual;
- que exista quem considere que mesmo esta lei é demasiado permissiva e ache que uma mulher violada deve ser obrigada a prosseguir a gravidez;
- que exista quem não perceba que o limite das 10 semanas é tão violador do princípio da igualdade como os 16 anos para se poder ser julgado criminalmente, ou os 18 anos para a maioridade, são decisões legais, mas baseadas em patamares definidos cientificamente;
- que a campanha do não seja populista, demagógica e subversiva, mais preocupada em dar t-shirts e brindes do que em afirmar uma posição;
- que exista quem considere que seres em potência devam ser protegidos, se assim for pugnarei para que a ejaculação para efeitos não procriativos preencha o tipo criminal do genocídio e que o Tribunal Penal Internacional comece a investigar;
- que uma questão totalmente jurídica possa ser enquadrada de uma forma tão irresponsável;
- que ainda haja quem se refira ao feto com 10 semanas como "bébé" ou "criança", se assim fosse considerado o código penal já pune o infanticídio;
- que haja quem considere que as pressões exteriores que levam uma mulher a abortar não se sentem hoje em dia, sejamos razoáveis;
- que a minha geração seja mais retrógrada que a dos meus pais e tão conservadora como a dos meus avós, ao menois eles tinham razões para isso;
- que ainda haja indecisos por quererem votar sim, mas terem medo que os outros os julguem por "ser a favor do aborto".

6 comentários:

pipo ou outro nome qualquer disse...

é bem!!! excelente

Anónimo disse...

e a mim n me cabe na cabeça que:

- n saibas q um espermatozóide sozinho n cria vida. Q para isso precisa de um óvulo. E q só depois de haver nidificação é q se considera vida. Deves pensar q todo o teu esperma deitado fora são pequenos abortos.
-em relação a este pérola "que ainda haja quem se refira ao feto com 10 semanas como "bébé" ou "criança", se assim fosse considerado o código penal já pune o infanticídio".
então se não é um bebé, uma criança é o quê? um rato? um gato? uma tesoura? um bocado de papel? uma lagartixa?
- que defender a vida seja uma posição retrógrada, conservadora? espero que nunca tenhas um filho. sinceramente.
e q qd estejas na reforma n haja dinheiro para pagar a tua reforma, por n haver jovens para descontarem , por n terem nascido crianças pq pessoas como tu achem q defender a vida é para malta conservadora. ainda bem q pouca gente acha tal barbaridade. o qseria de nós, da nossa civilização... enfim
obrigada pela atenção,
inês

Anónimo disse...

e n deixa de ser irónico o título do teu blog (a importância de estar vivo) para quem dá tão pouca importância à vida... um bocado incoerente, n será?
inês

Beko disse...

É estranho como mudam os fins, mas se mantêm os meios. Antigamente tinham-se filhos para a manutenção da espécie, agora é para a manutenção das reformas. Mas que bela maneira de trazer pessoas ao mundo: "Filho, nasceste porque a mãe e o pai queriam que nos pagasses a velhice". Parece-me um bom ideal por que lutar.

Anónimo disse...

Bernardo,



Pareces-me uma pessoa inteligente, apesar de não te conhecer, no entanto não é destrocendo os factos que podes deitar por terra os meus ou quaisquer argumentos.



Como é óbvio não é fazendo filhos a torto e a direito que lutamos por um país melhor, mais rico e com reformas no futuro. Se reparares esse foi um dos argumentos que usei para o que chamaste de posição retrógrada e conservadora - queria-te mostrar uma posição de futuro. Como sabes o país está a envelhecer a olhos vistos.


Gostava que compreendesses que abortar livremente, interromper uma gravidez quando se espera um filho normal e saudável não é solução. que egoísmo é esse? estamos (e desculpa a crueza) a falar de alguém porque não lhe é conveniente ter um filho agora poder abortar. Tirar uma vida em detrimento da sua? nao é correcto, é um egoísmo cruel e desumano.



Acredito que há vida ás 10 semanas, até antes, mas não é isso que está em causa agora. e não, não há vida no esperma como disseste.



Em que mundo perfeito e que algumas pessoas vivem por achar que a mulher só faz abortos porque não pode ter um filho? E as que abortam por egoísmo? porque querem subir na carreira, porque não querem sair de casa dos pais? porque não querem assumir uma vida que estara dependente da sua? que querem continuar "livres"?



Vão-me dizer que há muita gente que engravida porque não sabia como se engravida... hoje em dia? as poucas que há assim, também não saberão que estão grávidas portanto esse argumento PARA MIM não é válido.



Estamos aqui a falar não só de discriminalizar mas de tornar o aborto livre, por vontade da mulher, num estabelecimento de saúde legalmente autorizado, pago com os meus impostos, e mais o estado português não irá ter capacidade de fazer todos os abortos, então irá pagar a clínicas privadas para o fazerem. Estamos a falar de um país que está a fechar urgencias e maternidades por falta de condicões e agora quer dar as mulheres que abortam condicões dignas para abortar?



E a política de incentivo à natalidade? e os doentes que esperam anos ou meses por uma consulta e que não têm dinheiro para irem a um médico particular? que não têm dinheiro para pagar uma operacão que lhes pode salvar a vida?



Mais! esta pergunta desresponsabiliza os pais, as parteiras, a família e todos o que vivem à volta da mulher grávida. Se eu fosse homem e a minha namorada, amante, mulher, qq coisa queria ter uma palavra a dizer sobre o assunto... assim não, eu sou mulher sou dona do meu corpo e estou-me nas tintas para o que o homem pensa. o homem/ marido/ namorado/ não tem voto na materia.



será essa a mensagem a transmitir aos meus filhos? uma crianca é feita a dois, planeada ou não!



Estamos, neste referendo, a falar em aborto livre porque se é por vontade da mulher e sem nenhuma explicação e se for num estabelecimento de saúde legalmente autorizado o estado tem que fazer esses estabelecimentos, senão a pergunta do referendo de dia 11 ainda fazia menos sentido.



Percebes agora? Percebes porque voto NÃO?

a. disse...

Para a Inês:

Escrevo este comentário consciente que este referendo é antes de mais uma disputa entre convicções e estas dificilmente são modificáveis.
Escrevo, portanto, sabendo que se tens idade para votar vais continuar a votar "não" no domingo, e nada do que eu diga vai mudar alguma coisa.
No entanto, no teu último comentário acabaste com uma pergunta "percebes agora? percebes porque voto não?", e sinceramente Inês, não percebo.

1. Feto não é igual a criança; aborto não é igual a homicídio. Se não concordas com isto é porque defendes uma lei ainda mais restritiva do que a que existe hoje em dia e então nem vale a pena tentar discutir contigo.
(apenas para deixar isto bem claro: quando uma mulher é vítima de violação ela tem o direito de legalmente abortar. Ela tem o direito de escolher não continuar uma gravidez. Não há, pelo contrário, qualquer homicídio permitido por lei).

2. Neste momento temos uma das mais restritivas leis sobre o aborto na UE, a nossa lei prevê a punição com pena de prisão para as mulheres que escolham abortar. É isto que defendes que deve acontecer? É que ainda ninguém do "não" me explicou como é que se vai acabar com a humilhação pública destas mulheres (com investigação da sua vida privada), nem com a sua possível prisão.

2. O aborto, clandestino ou não, é uma decisão pessoal, ninguém te impede de teres cinco filhos e contribuíres para o rejuvenescimento da população portuguesa (se acreditas sinceramente nessa solução, força!).
Mas explica-me com que direito é que decides moralmente sobre a situação particular de outras pessoas? Lamento informar-te, mas o aborto não existe apenas por razões egoístas, e a tua simplificação é um insulto a todas as mulheres que tiveram de tomar essa difícil decisão.

4. Que fique bem claro: não defendo apenas o "sim" porque o mesmo significa a despenalização das mulheres que interrompem voluntariamente a gravidez; também o defendo para que as mesmas tenham acesso a condições dignas, providenciadas por um estabelecimento de saúde legalmente autorizado. Esta é a única solução que me parece civilizada numa sociedade de direito. É-me impossível compactuar com abortos de vão de escada feitos com agulhas de tricot.

5. Para finalizar quero apenas dizer-te que quem distorceu os factos nesta discussão foste tu. Um dos países com o maior crescimento da taxa de natalidade na Europa é a Noruega, surpresa das surpresas, o aborto não é proibido. Como é que eles conseguem tal feito? Resolvem os problemas que realmente interessam: criam as condições necessárias (como creches nas empresas, ajudas de custo para mães solteiras, etc...) para que a sociedade não seja um ambiente hostil para as mulheres que queiram ser mães (a dois ou sozinhas).

Podia continuar a escrever, mas sei que não te convenci, sei que vais continuar a votar "não" e por isso não vale a pena.
Só espero que deies de simplificar, com argumentos pseudo moralistas, uma decisão tão complexa como a decisão de interromper uma gravidez.