No site Cidadania Lx, reencaminhado por nimbostratus, encontrei uma bela discussão sobre o Rock in Rio.
O problema aí levantado é a isenção fiscal de 6.5 milhões de euros concedida pela CML aos organizadores do RiR. Eu fui ás duas edições do RiR realizadas em Lisboa, que fique desde já bem claro, o que não implica que a minha posição quanto a este festival seja bastante clara: para mim não passa de uma farsa. É o típico modelo moderno de evento: com um pretexto que apela ao sentimento da classe média ("Por um Mundo melhor"), factura balúrdios que não vão para a promoção de um mundo melhor, mas sim para os bolsos da família Medina. É neste modelo que assenta grande parte do "turismo humanitário", em que jovens europeus pagam para ir trabalhar para África, sendo que muitos deles não passam de Cabo Verde onde gozam de umas feriazinhas enquanto apaziguam os seus complexos de culpa. Já estou um bocado farto de culpar sempre os "monstros" desonestos que se aproveitam dos coitadinhos cheios de boas intenções. Pessoas desonestas sempre houve (o Roberto Medina é só mais um), o que me irrita hoje são as massas que as seguem que nem carneirinhos. A minha maior preocupação política é, sem dúvida, a inércia das massas, mais precisamente dos portugueses.
Voltando ao assunto, o que eu acho verdadeiramente vergonhoso não é só a isenção fiscal, mas ainda a vontade das partes em escondê-la, assim como ao valor das contrapartidas. De um ponto de vista puramente económico não me posso pronunciar sobre as mais valias globais do festival, no entanto parece-me muito improvável que com a CML a gastar 3 milhões de euros nas últimas duas edições o projecto seja, ainda assim, vantajoso. É o sem dúvida para os organizadores (que não são portugueses) e para os patrocinadores, mas e para os portugueses que pagam o investimento da CML e que gastam uma batelada de dinheiro para entrar num festival que, no fundo, é financiado pelos seus impostos? É o festival mais caro do país e ainda tem benefícios fiscais? Para quê? Que Portugal seja o país em que a disparidade entre o rendimento dos administradores seja o mais distanciado daquele dos trabalhadores já nós sabemos e aceitamos (eles até merecem coitados, trabalham tanto...), agora que os senhores administradores do RiR enriqueçam á custa do portuguesinho já não me parece bem. É que como disse muito bem um dos comentadores deste artigo, o festival não é alternativo, é um festival popular e comercial, o que quer dizer que quem lá vai são os trabalhadores que ganham 32 vezes menos que os seus patrões. Será que eles devem pagar 50€ por dia para ver o concerto a que têm direito, para o qual pagaram com os seus impostos (que os trabalhadores por conta de outrem não podem fugir)?
A discussão nos comentários ao artigo espelha bem as posições políticas que separam o nosso país: um rapazinho tenta, da pior forma, defender que o Rir é um esquema, enquanto dois outros se atiram a ele em prol do desenvolvimento económico do país, do futuro e do progresso. A mim entristece-me a falta de nível intelectual da esquerda portuguesa aqui bem representado. Eles até têm razão, mas fazem pior quando falam do que se estivessem calados. Quanto aos meninos de direita, nem precisão de se esforçar, brandem o progresso e pronto, é o mesmo de sempre. A mudança é sempre mais difícil de defender que o conservadorismo.
Já chega de post atabalhoado e impulsivo.
1 comentário:
Sabes que sou contra o "turismo humanitário" pelas razões todas que falamos. O que a mim me faz confusão é a CML apoiar este evento de forma monetária... ela não pediu agora dinheiro emprestado?? Não seria um bom dinheiro para a CML? e até uma boa razão para ajudar a camara? Bom isto tem "pano para mangas", a ver se falamos disto no "Bombas" ou assim!
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