12 outubro 2009

À Coca

Numa conversa com amigos aqui há uns dias disse descontraidamente que “ toda a população índia da América do Sul era ligeiramente estúpida”. Qual não foi o meu espanto quando me vi rodeado de olhares perplexos, desabando instantaneamente sobre mim um conjunto de argumentos ao qual só posso chamar de chacina intelectual. A conversa surgira a propósito do consumo de coca, não a mesma cocaína que se consome por cá, mas o mastigar da folha da dita, por parte dos índios colombianos. Pareceu-me perfeitamente aceitável considerar que esse hábito prolongado durante toda a vida em nada abonava a favor das capacidades cognitivas da população indígena. O raciocínio baseava-se num paralelismo muito simples: imaginando qualquer pessoa em Portugal a começar a mastigar folhas de coca na adolescência e a continuar a fazê-lo pela vida toda, não me parece estranho que o seu desempenho ao longo do tempo se vá degradando.
Depois de alguma investigação reconheço o meu erro ao considerar que o “mastigar” ou melhor “chupar” folhas de coca pudesse ter efeitos a longo prazo, algo que está comprovado não acontecer. Ainda assim, parece-me extremamente exagerada a reacção. O que se estava a discutir não era se a folha de coca tinha ou não efeitos, era se, existindo esses efeitos, isso faria com que “ toda a população índia da América do Sul fosse ligeiramente estúpida”. Eu ter-me referido aos índios sul-americanos, membros de uma comunidade “desprotegida” e, como tal, “protegida” pelas leis do politicamente correcto é que levou os meus amigos a saltarem da cadeira e a passarem a olhar-me de lado como um qualquer ser meio racista.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já ouviste o Big Mouth Strikes Again dos The Smiths?

welcome back!
HI&P Anon.

Beko disse...

Sim, porquê?
Do you know how Joan of Arc felt?